O Museu Paulista e o Parque da Independência valorizam os imóveis próximos. Num raio de 300m de distância desses dois marcos, é preciso pedir autorização para construir ou reformar nos níveis municipal, estadual e federal.* Tal peregrinação burocrática tem suas vantagens. Muitos lotes antigos contam com área menor que a mínima exigida pela lei atual e várias casas têm área construída maior do que a permitida hoje. Se estiverem em situação regular, compre sem medo. Fora da área protegida, as casinhas abrem espaço aos prédios. O distrito tem boas moradias em três áreas: no Ipiranga, Alto do Ipiranga e Vila Monumento. Recentemente, os condomínios-clubes também têm aportado por lá. “Nos últimos dois anos, os imóveis valorizaram cerca de 40%, e os preços devem subir mais com o metrô”, afirma Milton Bigucci, diretor da construtora MBigucci. A estação Alto do Ipiranga inicia suas operações em março de 2007. Antes, em janeiro, a abertura do primeiro trecho da via Expresso Tiradentes (o Fura-Fila), D.Pedro II-Sacomã, em estrutura elevada, vai aliviar o tráfego dos ônibus intermunicipais dentro do bairro e deve aumentar o impacto turístico dos prédios tombados. As enchentes, porém, incomodam: apesar das obras de alargamento de 1440m do leito do Córrego do Ipiranga, concluídas em 2006, chuvas mais fortes castigam a rua Teresa Cristina e trechos das avenidas Ricardo Jafet e Monumento.
*Para construir ou reformar nessa área, deve-se pedir autorização a três órgãos que zelam por sua preservação: o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp), o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Rota de tropeiros a caminho do mar, o Ipiranga presenciou o grito de independência, em 1822, e viu o progresso chegar com imigrantes no final do século 19. Os sírio-libaneses instalaram o comércio na rua Silva Bueno. Pouco depois nasceram indústrias como a Linhas Corrente e a Tecelagem e Estamparia Ipiranga. Essa última pertencia aos Jafet, família influente na região e dona de uma jóia de arquitetura eclética: o Palacete dos Cedros. Erguido pelo libanês Basílio Jafet, em 1921, o casarão tem 43 cômodos. Colunas floreadas cercam o hall, aberto para os vitrais franceses de um jardim- de-inverno. Outros três palacetes dos Jafet resistem junto ao cruzamento das ruas Bom Pastor e dos Patriotas.
Positivos
Localização
Abundância de serviços
Áreas verdes
Negativo
Alagamento
“O último a chegar trancava a porta de casa.” Filho de sírio-libaneses que aportaram no Brasil em 1925, o advogado Natal Assad Saliba , 69 anos, viveu as transformações do Ipiranga. “Era um bairro de famílias unidas. Além da colônia síria, havia os espanhóis e os italianos”, relembra. “De tão tranqüilo, deixavam-se o leite, o pão e o jornal na porta de casa, e ninguém mexia.” Na adolescência, para chegar ao tradicional Colégio Paulistano, no Centro, Saliba tomava o bonde com os amigos. “Despistávamos os cobradores para não pagar. Foi um período romântico, que deixa saudade.” Ativo, reúne documentos para um livro de histórias do Clube Atlético Ypiranga, o primeiro fundado na cidade, em 1906, e, até hoje, um dos orgulhos do bairro.
“Aqui é perto de tudo” Lisa Monteiro encontrou o sonhado apartamento no Ipiranga depois de procurar durante três meses. Alugou um de dois dormitórios e garagem, com vista para o museu. “Morei em vários endereços do bairro com meus pais, sempre gostei daqui”, conta a arquiteta, casada com Anderson Monteiro. “Meu marido leva só vinte minutos de ônibus para chegar ao trabalho, no Centro.” A abundância de linhas para vários pontos da cidade foi determinante para o casal. “Nos finais de semana, num pulinho estamos na avenida Paulista para pegar um cinema.”
Percebe-se nos ipiranguistas um entusiasmo genuíno. Muitos estudaram no bairro e encontram amigos de infância na lanchonete, na padaria ou na barbearia. Parece cidade do interior. No Parque da Independência, senhores jogam cartas e senhoras caminham. Ali perto, há um centro de convivência da terceira idade – um oásis de respeito aos idosos dentro da metrópole. Na rua Silva Bueno, o comércio denuncia a herança dos sírio-libaneses, presentes desde o século 19. Com tantas famílias tradicionais, os moradores sempre ofereceram resistência à verticalização. “Antes era muito difícil que os moradores trocassem casa por apartamento, mas a crescente preocupação com segurança tem mudado isso”, avalia Milton Bigucci, que tem uma construtora com empreendimentos na região. A oferta de novos apartamentos têm atraído também moradores de outros bairros, como a Mooca, o Brás, a Saúde e a Vila Mariana.