Renata Raynaud, designer de interiores, recebeu uma casa mobiliada de herança que se revelou algo único: tinha projeto de Oscar Niemeyer e móveis desenhados por Sergio Rodrigues. Entre os 107 móveis, há as famosas cadeiras Mole, além de várias peças feitas sob medida: camas, sofás, estante mesa de jantar de três metros (com 12 cadeiras de Jacarandá da Bahia). Tudo ficou para Renata – algumas estão na casa herdada, outras no seu apartamento e seis delas foram vendidas. Há ainda móveis que precisam de restauro. O marido de Renata, Fernando Argollo, advogado, entrou em contato com Instituto Sergio Rodrigues para viabilizar a reparação.
A Carta de Sergio Rodrigues
“Conheci Anapolino [pai de Renata] no início dos anos 60. Ele tinha ido me visitar na Oca, e apesar de conhecer nosso trabalho superficialmente, era um fã incondicional. Batemos um papo informal, quando me descreveu com entusiasmo, as qualidades maravilhosas de sua casa em Anápolis, projeto de Oscar Niemeyer. A conversa varou às 22 horas. Tanto Anapolino quanto sua senhora, tinham elaborado um plano perfeito, com o nome das peças, faltando somente o arranjo nos espaços, quer dizer, a ambientação. Não foi difícil aplicar o meu mobiliário, praticamente estava tudo resolvido. Preparei ali mesmo a relação dos móveis necessários e com o catálogo de Oca nas mãos foi tudo muito fácil”, Sergio Rodrigues .
Sergio enviou essa carta para Marcos Zapp, jornalista que estava preparando uma mostra dos móveis que pertenciam a Renata, em novembro de 2012. Como ele ressalta, a elaboração e confecção dos móveis foi rápida: tudo ficou pronto em, aproximadamente, 70 dias. E eles foram produzidos por Sergio e sua equipe da Oca, que paralelamente, estavam também realizando um trabalho para a Universidade de Brasília (UNB). A mãe de Renata, Dulce de Faria, não aceitava nenhum móvel que não fosse do designer Sergio Rodrigues. Mas, entre as peças de decoração, como quadros e objetos, há itens assinados por nomes importantes do design nacional como Gilda Reis Neto, Paulo Werneck e Zanine Caldas.
Projeto de Oscar Niemeyer
O projeto da casa foi um presente de Oscar Niemeyer para o pai de Renata. Segundo relatos de familiares, como o arquiteto estava ocupado com a construção de Brasília, deixou a construção do imóvel nas mãos de sua equipe. Não há, portanto, nenhum documento que comprove e autentique que a casa seja da autoria do arquiteto Oscar Niemeyer. O imóvel ocupa um terreno de 2.230 m² e tem área construída de 700 m², envolvida por uma caixa de madeira denominada Castilho, termo dado pelo arquiteto Marcílio Lemos (presidente do Centro Cultural Oscar Niemeyer de Goiânia), que dá a impressão de estrutura base da casa. Localizado na Rua Dona Sandita, no centro de Anápolis, a construção tem quatro quartos (duas suítes), área de lazer (piscina com churrasqueira), e subsolo que acompanha a inclinação do terreno. Os traçados são nitidamente modernistas, característicos da época e de Oscar Niemeyer. Hoje, a casa é habitada por Suzane, irmã de Renata, e se encontra à venda.
Quem foi o pai de Renata?
Anapolino de Faria foi um visionário dos anos 50. Ele nasceu em 1921, em Anápolis e, em sua juventude, estudou medicina no Rio de Janeiro. Lá, conheceu Dulce de Faria, com quem foi casado pela vida inteira. Retornando a sua cidade, se engajou na política: foi deputado, vereador e prefeito por duas vezes (1983-1985 e 1989-1992). Dentre suas criações, fundou o Jóquei e o Lions Club. Nos anos 60, por possuir um cargo político importante, conheceu Juscelino Kubistchek e acabou se tornando amigo do então presidente. O laço entre os dois era tão forte, que Juscelino ia sempre a sua casa e possuía até um quarto para se hospedar quando o visitava. Juscelino apresentou Oscar Niemeyer a Anapolino – o arquiteto acabou se tornando amigo dele também. Após a construção do imóvel, foi o próprio Niemeyer que apresentou Sergio Rodrigues ao dono da casa. Anapolino faleceu em 2008, com 87 anos. Sua esposa viveu até 2010. Após acordo com os irmãos, Renata herdou toda a mobília. Já a casa será vendida e, o dinheiro, compartilhado entre os herdeiros.